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Dias atrás assisti A Despedida  (Farewell,), filme que ganhou o Independent Spirit Awards deste ano. Uma família encontra um motivo para se reunir, a fim de que possam ver pela última vez  a matriarca, ao descobrirem que ela tem poucas semanas de vida, sem que ela saiba, porém, do diagnóstico. 

Durante o filme, comovida com uma cena de despedida em especial,  comecei a pensar nos adeuses que damos pela vida, sem que alguém, literalmente, tenha que morrer.  São despedidas, partidas, até breves que jamais se concretizam,  até nunca mais, graças a Deus. 

São nossos adeuses.  Deixamos pessoas, lugares e coisas pelo caminho,  e jamais com ausência de sentimento, seja dor, remorso, alívio ou  alegria. 

A gente se despede dos filhos crianças; dos filhos adolescentes, até com alívio, para ver os adultos que nos olham de frente.

A despedida de uma vida tem o mesmo efeito de uma falha geológica. Pode virar um terremoto.  Tenho na memória a cena de uma mesa. Dois estranhos e uma decisão.  Ficam pelos desvãos o amor juvenil desvanecido, alegrias perdidas,  um sem fim de tristezas.  Uns tantos  arrependimentos. É preciso procurar por entre as dobras das paredes o que resta da esperança, juntar com as malas e os filhos, e partir.

Também me despedi de uma cidade, embora nunca tenha deixado de voltar. Naquela época Porto Alegre era tão mais longe. Tenho lembrança do carro carregado de roupas e  sapatos (muitos naquela época), livros, tralhas, medos e fé. Carro cheio até o teto. Tudo descarregado em um flat por onde ficamos nos primeiros seis meses.  Não foi um até logo, foi um adeus importante para muitos significados da terra de nascença.     

Há paixões e adeuses recorrentes, contumazes, que só conhecem vírgulas. Todos conhecem o final da história, mas o roteirista é daqueles seres que acreditam no sucesso dos caminhos tortuosos. Provável  indicação ao Oscar na categoria dramalhão.  E haja sofrimento até aparecerem os créditos na tela.  Por fim, nem é um adeus, tamanho o  alívio.

Pelo caminho ficaram cidades e amigos. A internet, o whats up, o Facebook estão aí. Localizamos as pessoas, mas não voltamos no tempo.  Foram despedidas. Nunca mais os causos contados em apuração de eleição.  Nunca mais as risadas sem fim das gafes cometidas nas solenidades solenes. Nunca mais as baforadas de cigarro entre uma audiência e outra, com a querida colega do outro lado do corredor.  Nunca mais os sustos e peripécias  na casa dos  interditandos, naquelas incríveis audiências caseiras, com a amiga promotora.

Para a terra das almas disse apenas um único grande e dolorido adeus, até agora. Meu pai, grande ser humano.  Ele insistia em viver. Homem teimoso. Mesmo sem ar, queria ficar. Um dia, nem a teimosia resistiu. 

Outras vezes nem é preciso despedida. A gente  encontra um olhar e a pessoa não está mais lá.  

Adeuses nasceram para serem doloridos, mas sempre há outras histórias para além da porta, e isso não é consolo literário. Sabe quem vive.

Sobre o filme ? Aconselho!!! Nada mais complexo e bonito que histórias de família.