Ainda estou aqui

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Fui assistir “Ainda estou aqui”. No começo senti raiva. Raiva do que a ditadura militar fez com as pessoas e com as famílias. Mais raiva senti quando lembrei da placa que Bolsonaro pendurou no seu gabinete de deputado, com os dizeres: “Quem procura osso é cachorro.”. Não senhor! No Brasil, também as famílias de desaparecidos, até hoje, procuram os ossos de seus mortos, como a família Paiva.

O filme comove, pela dor silenciosa. Comecei a chorar quando Eunice entrou no fusca, junto com a filha, para serem interrogadas, pelo pavor delas. Fiquei impressionada com o quanto ela se mostra contida diante da tragédia, reação que interpretei como medo: por ela, pelos filhos, pelo marido, que por um tempo, ainda acreditou estar vivo, por estar sendo vigiada. Lá está escancarado o clima de medo da época do regime militar, e suas atrocidades: Foram 20.000 pessoas torturadas, 434 pessoas mortas ou desaparecidas e 200 jamais tiveram os corpos localizados. Esse cenário aumenta a imbecilidade de quem, recentemente, fazia vigília em frente aos quartéis, pedido intervenção militar e a volta do AI5, mostrando uma ignorância absurda da verdade histórica.

O filme veio em um momento importante da história política brasileira – considerando os atos de 8 de janeiro e a tentativa de golpe – para que nos lembremos que certos crimes não são merecedores de perdão, e que apenas o esquecimento , como o promovido pela Lei da Anistia, não evita a repetição.

O roteiro do filme é maravilhoso porque conta a verdade, sem truques de cinema. A história é impactante, sem ter mostrado cena de tortura. As cenas do passado nos levam para o passado. A história está contada com base em fatos. A atuação de Fernanda Torres é comovente. O papel de Selton Melo é pequeno comparado ao ator que é. Filme que faz chorar, sempre é muito bom. Mas ele também tem a capacidade de nos indignar, e foi o que demonstrou um espectador que ao final, em pé, gritou a plenos pulmões:
•⁠ ⁠Bolsonaro NUNCA MAIS, com direito à repetição: Bolsonaro NUNCA MAIS.
Foi uma redenção. Os aplausos e gritos foram em número suficiente para demarcar o território da indignação e da crença que sempre haverá quem lute contra o autoritarismo.

Ainda estou aqui #Ditadura Nunca Mais