“Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro em um acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo”
Oração ao Tempo, Caetano Veloso
Na descida da escada tenho parado, a cada dia, olhando as fotografias. Há uma galeria de fotos na parede lateral. Optei por fotos antigas. Meus pais cortando o bolo, no casamento: presto atenção na cintura de abelha da mãe, e lembro que o meu tempo de cintura fina já passou. O olhar travesso do meu pai, antecipando risos e lágrimas do futuro. Quando olho para a minha foto de franja e cabelos chanel, com dentes a menos, tenho um minuto de tristeza olhando o guri ao meu lado, de cabelos pretos e olhos redondos, tão sério. Sempre fomos assim, eu e meu irmão, tão diferentes e tão parecidos, parceiros dos mesmos dramas familiares. E lá estão meus filhos, pequenos e grandes. Os dois, lado a lado, em roupa de festa, posando para a posteridade. Ela sorrindo, ele sério. E na montagem de fotos, a boniteza da infância. Duas fotos: a dele, sentado no degrau, de chinelinho, cabelos loiros, mãos segurando o rosto. O riso e os olhos, diretos para a câmera. A dela, sentada na areia, de biquini de oncinha, sorrindo ao meu lado. Vontade de viver de novo esse tempo. Depois, adultos, fazendo careta um para o outro. Amor de irmãos, lindo de ver. Há uma foto que me traz lágrima aos olhos. As duas garotas tomando café, sentadas à mesa, sob o sol de Canela. Um tempo de muita doçura. E há a foto do riso, aquela que a metade da franja da pequena se fora às tesouradas. A outra, da garotinha bocejando, no berço; e há a foto da menina adolescente, me fazendo um coração com as mãos. Doçura. Primos. Infância, amizades. Família. No degrau das escadas, o tempo, para lembrar que se não somos seus Senhores, somos coautores. Dá para criar parte do roteiro.